Hoje recebi uma mensagem de um amigo, enviando-me o endereço de um Blog que se refere à história da actual cidade da Figueira da Foz (http://www.atonito.blogspot.com/).
O respectivo conteúdo vem ao encontro do que escrevi na minha última “postagem”. Quando se trata de evocar o passado medieval, sobretudo os séculos XI a XIV, toca de aplicar as “inevitáveis” interpretações toponímicas, pondo de parte os factos históricos ou, mais grave, distorcendo-os.
Admitindo que uma determinada justificação toponímica assente em pressupostos científicos poderá ser plausível, ainda assim pergunto: que acrescenta isso à nossa vontade de conhecer um ou outro aspecto atinente a uma determinada sociedade local? Pessoalmente, interessar-me-ia, sim, ter uma ideia de como viviam os seus habitantes ou quais os poderes que enquadraram tais comunidades. Por isso mesmo, não vou comentar a interpretação toponímica apresentada pelo autor do referido Blog, que, quando não cita, copia descaradamente outros autores. Mas isso é outra história.
A dada altura, escreve-se que “reconstruído mais tarde, o antigo povoado esteve largos anos reduzido a simples freguesia, dependente administrativamente do extinto concelho de Buarcos”.
Ora bem. Diz a minha ignorância que tal afirmação carece de algumas correcções.
São Julião era tudo menos uma “simples freguesia” e muito menos dependia administrativamente de Buarcos, mas sim de Tavarede.
O autor encara a “freguesia” numa perspectiva administrativa, o que me parece um erro crasso quando falamos do período medieval. Recordo que as freguesias só passaram a constituir-se órgãos administrativos a partir do século XIX. Previstas as Juntas de Paróquia em cada freguesia pela Carta de Lei de 25 de Abril de 1835, a freguesia deixará de fazer parte da organização administrativa em 1840 (Carta de Lei de 29 de Outubro), o que só voltará a acontecer, desta vez em definitivo, em 1878, com o Código Administrativo de Rodrigues Sampaio.
A paróquia de São Julião seria tudo menos uma “simples freguesia”.
Antes pelo contrário. Se o povoado onde se situava a igreja não era comparável em importância aos de Alhadas, Buarcos, Maiorca, Quiaios ou Lavos, a verdade é que São Julião era a mais importante de todas as freguesias (paróquias) que se inscreviam no espaço do actual concelho da Figueira da Foz.
Para constatarmos tal facto, basta observar o rol dos quantitativos a entregar a D. Dinis para fazer face à luta contra os muçulmanos, privilégio que lhe foi concedido pelo Papa em Maio de 1320.
Este rol é elucidativo quanto à importância de São Julião – então chamada de São Julião da Foz do Mondego (na lista de igrejas de 1257-58 era designada São Julião de Tavarede e chegou também a ser chamada de São Julião de Buarcos, pois assim se lhe referem alguns documentos do início de XIV).
De facto, o rol em questão (Vid. FORTUNATO DE ALMEIDA, História da Igreja em Portugal, vol. IV, Barcelos, 1967, pp. 122-126, para a parte do bispado de Coimbra que nos interessa) não deixa dúvidas quanto à importância eclesiástica de São Julião (de quem dependiam, aliás, as igrejas de Buarcos e de Tavarede, que só mais tarde foram autonomizadas – Buarcos em 1500 e Tavarede em data que desconheço).
As 300 libras com que contribui São Julião estão muito além da segunda maior contribuinte do espaço físico em referência: São Pedro de Alhadas, com 80 libras. Por curiosidade, registe-se que se lhe seguem Maiorca, com 50, Lavos, com 40 e Santa Eulália com 30 libras. A igreja de São Mamede de Quiaios é omitida na lista.
Estes quantitativos, a par de outros elementos que tratarei em próximas “postagens”, são mais ou menos elucidativos da importância dos povoados em que se incluem.
Por hoje é tudo.
O respectivo conteúdo vem ao encontro do que escrevi na minha última “postagem”. Quando se trata de evocar o passado medieval, sobretudo os séculos XI a XIV, toca de aplicar as “inevitáveis” interpretações toponímicas, pondo de parte os factos históricos ou, mais grave, distorcendo-os.
Admitindo que uma determinada justificação toponímica assente em pressupostos científicos poderá ser plausível, ainda assim pergunto: que acrescenta isso à nossa vontade de conhecer um ou outro aspecto atinente a uma determinada sociedade local? Pessoalmente, interessar-me-ia, sim, ter uma ideia de como viviam os seus habitantes ou quais os poderes que enquadraram tais comunidades. Por isso mesmo, não vou comentar a interpretação toponímica apresentada pelo autor do referido Blog, que, quando não cita, copia descaradamente outros autores. Mas isso é outra história.
A dada altura, escreve-se que “reconstruído mais tarde, o antigo povoado esteve largos anos reduzido a simples freguesia, dependente administrativamente do extinto concelho de Buarcos”.
Ora bem. Diz a minha ignorância que tal afirmação carece de algumas correcções.
São Julião era tudo menos uma “simples freguesia” e muito menos dependia administrativamente de Buarcos, mas sim de Tavarede.
O autor encara a “freguesia” numa perspectiva administrativa, o que me parece um erro crasso quando falamos do período medieval. Recordo que as freguesias só passaram a constituir-se órgãos administrativos a partir do século XIX. Previstas as Juntas de Paróquia em cada freguesia pela Carta de Lei de 25 de Abril de 1835, a freguesia deixará de fazer parte da organização administrativa em 1840 (Carta de Lei de 29 de Outubro), o que só voltará a acontecer, desta vez em definitivo, em 1878, com o Código Administrativo de Rodrigues Sampaio.
A paróquia de São Julião seria tudo menos uma “simples freguesia”.
Antes pelo contrário. Se o povoado onde se situava a igreja não era comparável em importância aos de Alhadas, Buarcos, Maiorca, Quiaios ou Lavos, a verdade é que São Julião era a mais importante de todas as freguesias (paróquias) que se inscreviam no espaço do actual concelho da Figueira da Foz.
Para constatarmos tal facto, basta observar o rol dos quantitativos a entregar a D. Dinis para fazer face à luta contra os muçulmanos, privilégio que lhe foi concedido pelo Papa em Maio de 1320.
Este rol é elucidativo quanto à importância de São Julião – então chamada de São Julião da Foz do Mondego (na lista de igrejas de 1257-58 era designada São Julião de Tavarede e chegou também a ser chamada de São Julião de Buarcos, pois assim se lhe referem alguns documentos do início de XIV).
De facto, o rol em questão (Vid. FORTUNATO DE ALMEIDA, História da Igreja em Portugal, vol. IV, Barcelos, 1967, pp. 122-126, para a parte do bispado de Coimbra que nos interessa) não deixa dúvidas quanto à importância eclesiástica de São Julião (de quem dependiam, aliás, as igrejas de Buarcos e de Tavarede, que só mais tarde foram autonomizadas – Buarcos em 1500 e Tavarede em data que desconheço).
As 300 libras com que contribui São Julião estão muito além da segunda maior contribuinte do espaço físico em referência: São Pedro de Alhadas, com 80 libras. Por curiosidade, registe-se que se lhe seguem Maiorca, com 50, Lavos, com 40 e Santa Eulália com 30 libras. A igreja de São Mamede de Quiaios é omitida na lista.
Estes quantitativos, a par de outros elementos que tratarei em próximas “postagens”, são mais ou menos elucidativos da importância dos povoados em que se incluem.
Por hoje é tudo.
4 comentários:
Eu bem digo. Que se foda o passado mais os escribas.
Vai-te foder tu!
E se dizes que se foda o passado, como podes viver o presente? Que eu saiba, que não tem consciência do passado (mais do que não seja do seu próprio) não pode ter a noção de ser presente.
O futuro, sim, que se foda, pois é imaginação pura.
Cumprimentos
Carta Aberta ao Sr. Ceptocinico:
Na sequência dos seus comentários à pouca tesão que lhe dá a História e os acontecimentos do passado, desejo manifestar-lhe um certo desagrado pela ousadia de perturbar os trabalhos do sr. Pedreiro, no que diz respeito à história e à cultura do nosso povo e das nossas gentes. Qualquer finlandês sabe a história da sua terrinha caramba.
Por outro lado, essa sua falta de libido histórica é pouco normal, e acarreta algumas dúvidas quanto à questão de ter nascido de facto no nosso planeta.
As dúvidas vão permanecer no ar, até que alguém nos esclareça...
E já agora se o passado é tudo o que ficou para trás no tempo.. diga- me, porque é que está a ler isto..!?
o autor não leu o cabeçalho do blog Atónito.Lá não se diz que os textos são de própria autoria
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