Pretendeu o Grupo Alhadas Jovem criar no CRIA (Clube Recreativo Instrução Alhadense) uma actividade diferente, para uma camada de gente diferente (não melhor ou pior que os outros, apenas diferente). Esclareço que esta diferença tem apenas e só que ver com gostos musicais. Pretendeu, dizia eu, e conseguiu. Conseguimos ao longo dos domingos que por lá girámos criar uma carteira de clientes que, em nosso entender, justificava plenamente a porta aberta e a nossa voluntária, alegre e satisfeita actividade.
Eis senão quando um dos donos, perdão, um dos directores do CRIA, resolve convocar uma reunião conjunta (eles e nós) cujo ponto único da ordem de trabalhos era apenas do conhecimento dele. Até aqui, e pela parte que nos toca, tudo bem.
Na noite aprazada e à hora marcada lá estamos. Mas o Sr. Director, importantíssimo no seu papel de dirigente associativo, embevecido pela alta missão de que agora se encontra empossado, aparece com mais ou menos uma hora de atraso. Da sua boca não sai uma desculpa, uma palavrinha de compreensão pela nossa espera. Nada. É o protótipo do Sr. Director que não espera por ninguém. Todos devem esperar por ele. Vai ainda e tranquilamente tomar o seu café. Apresso-o. Diz-me delicadamente (honra lhe seja feita) que já vem.
Finalmente vamos. O Sr. Director toma a palavra. Aliás, não me recordo que mais nenhum director a tenha tomado, até pela estupefacção em que ficaram com o desenrolar dos acontecimentos. Diz o Sr. Director que devemos misturar outro tipo de música com a música da nossa preferência. Deveríamos, em seu entender, submetermo-nos mais ao comercialismo.
Contrapomos que para nós isso significaria abdicarmos do fundamental, daquilo a que mais importância damos no meio de todo o contexto – o prazer de ouvir e dar a ouvir a música que gostamos e que os nossos clientes preferem.
Contrapõe o Sr. Director que não pode ser, alegrando que os filhos dos sócios (adianta o exemplo específico de sua filha, criança de no máximo 3 (três) anos) se estão a afastar da colectividade por nossa causa.
Aqui capitulamos. Impossível contrapor seja o que for a este argumento do Sr. Director.
Restou-nos fazer as malas e despedirmo-nos, não sem antes ficarmos a saber que o Sr. Director tenciona prosseguir o nosso trabalho, mas com um som diferente, para conseguir a presença dos sócios, dos filhos destes, com um pouco de sorte os pais deles, os tios daqueles, os netos dos outros, os tetravôs de todos e mais quem viesse... Pois.
Ficámos tristemente desconsolados. O nosso trabalho, os nossos esforços, o nosso ânimo, a nossa vontade, tudo tinha desabado por imperiosa exigência do todo-poderoso Sr. Director. Entendemos que naqueles domingueiros lapsos de tempo, mais a sério ou mais a brincar, mas com a originalidade possível, colmatávamos uma carência local.
E ficámos também na expectativa. Como iriam reagir os nossos clientes nos domingos seguintes? Aguardámos impacientes e fomos ver. O CRIA estava lá. Alguns (poucos) elementos da Direcção também. A música (deles) estava lá, as bebidas também. Enfim, estava lá tudo excepto os clientes. Nem um! Nem os filhos dos sócios. Um fracasso completo, Sr. Director.
E pergunto eu: o que ganhou a colectividade ou a comunidade com a atitude prepotente de um indivíduo? O que perdeu a colectividade ou a comunidade com a nossa iniciativa?
Entendo que as colectividades não devem ser dirigidas por uma ou duas pessoas que põem e dispõem a seu bel-prazer só porque têm dinheiro ou influência, ficando o resto dos elementos à sombra destes valores falsos, de tal forma que acabam por não produzir nada de concreto e positivo ao longo do mandato. E observe-se que estou a generalizar. O mal é geral.
Dir-me-ão que há pessoas nas colectividades com verdadeiro espírito associativista, autênticos carolas. Certamente e felizmente. Conheço alguns de muito perto e tive com eles algumas experiências. É a esses que se deve o facto de as colectividades irem sobrevivendo. Deviam fazer uma revolução e livrar as suas associações desses donos camuflados de benfeitores. Erradicar do seu seio os lugares cativos e vícios perigosos tais como: estar à espera do subsídio, estar à espera que alguém traga a madeira, o papel de cenário, o transporte, o fio eléctrico, as bebidas, o contrato com o grupo musical, etc., etc., etc. É imperioso largar de vez uma mentalidade clubista velha, egocêntrica e preconceituosa que reza – tudo para a associação – e à sombra desta máxima edificar grandes sedes, com amplas e arejadas salas e salões, camarins dignos desse nome, guarda-roupas bem apetrechados, grandes e funcionais teias, recintos de jogos, etc. E todas estas estruturas que deviam estar ao serviço da comunidade estão inoperacionais, quedas e mudas, sem préstimo, estagnadas. Há que abrir as mentes a ideias novas e novos conceitos. Há sobretudo que cativar os jovens que tão necessitados estão destes espaços e não ter medo da sua irreverência e do mundo novo que eles estão a criar.
Mas têm de ser todos a trabalhar em conjunto, a procurar soluções, a criar coisas novas e renovadas.
É esta uma das carências locais a nível humano. Temos três grandes colectividades no seio da vila, cada qual com as suas tradições, que proporcionam formidáveis espaços para um sem-número de actividades. E o que se vê? Pouco mais que nada. Isto é, bailes. Grande fartura destes inúteis e degradantes ajuntamentos. Grosso modo, o programa de actividades das nossas colectividades para o ano em curso poderia ser – BAILES, MUITOS – e estávamos falados.
Sem grandes ambições, é este vazio uma das razões de ser do Grupo Alhadas Jovem. Fazer umas brincadeiras para colmatar a sua inexistência, numa localidade a abarrotar de colectividades grandes e vazias. Deixem-nos brincar, por favor.